terça-feira, 28 de setembro de 2010

Para que ficar lamentando a vida... Se ela é tão bela?

Abro aqui um dialogo com o leitor..


"Para que ficar lamentando a vida, se ela é tão bela?"

Retruco afirmando que belo é o nosso olhar sobre os fatos.. Desde a interpretação literária e sem graça a um conjunto de momentos cujas emoções fogem aos dicionários..

- E você, leitor? Como a interpreta?

(O sentimento humano e seus misterios)

É daqueles que observam as minúncias da natureza, que transforma uma paisagem numa sinestesia de sons, odores e lembranças?

É pragmatico, que analisa de perto, enumera, cataloga, prova se for preciso todos os sabores e dissabores que oferece o risco da vida e das relacoes humanas? Que, como bem diz o sábio matuto: - cê paga prá ver?

Faz-se de mero expectador, arrogante humano alheio, pseudointelectual, que sempre se pergunta por que esse mundo tem tanto de tudo, de gente, de informacao..e o quanto isso lhe enoja?

Ou vive se rogando, lamentando-se das causas perdidas, do arrependimento de nao ter executado, de viver na inútil inércia do lamento e ócio..

Eu, como poucos, como os excludentes desse mundo tão sem coragem do manifesto do ser, sem amarras e com a garganta a gritos e as costas e maos carregando todo o peso do mundo.. vivendo todo sofrimento do que o ser humano poderia ser e não é; chorando a cada dia a banalização do milagre da vida, em cada parto, por entre iodo e verdes jalecos.. A antítese do verde que deveria significar esperança, fecha-se junto as linhas de nylon, grampos e esparadrapos e término do expediente.

Eu choro a lembrança que me traz a chuva, o céu nublado, a lua cheia

Rio o sorriso descompromissado do transeunte, da criança, do palhaço sem graça

Apego-me às lembranças do passado, visualizando cada longa metragem com as restantes lembrancas, imagens e objetos de cada ser que por mim passa intensamente

Choro em silencio. Rio alto. Faço até ambas as coisas, quase ao mesmo tempo, ao lembrar alguns trechos de passado, quase sempre marcantes.

E acabo correndo o iminente risco de chamar-me louca a todo dia. Como muitos já o fazem


Mas lamentar a vida? Nunca!
Que graça teria viver de lamentos?

Defendo o fato de viver intensamente cada circunstancia..cada momento presente - da alegria ao luto.

Mas "lamentar a vida" seria uma constante..Seria a inércia do rogado ou mesmo a arrogancia do pseudointelectual

Sugiro então, leitor, que sejas intenso. E não constante.

A vida é muito pouco para traçá-la em linha reta..



Michelle de Andrade



Tenho pensamentos que,
 se pudesse revelá-los e fazê-los viver,
acrescentariam nova luminosidade às estrelas,
nova beleza ao mundo 
e maior amor ao coração dos homens
                                           Fernando Pessoa