domingo, 21 de outubro de 2012

Saber Viver


Não sei… Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura… Enquanto dura.
Cora Coralina


segunda-feira, 11 de junho de 2012

A lista de uma Balzaquiana


Pegou papel, caneta e listou. Base, sombra, rímel, delineador, blush e batom. 
O vermelho para valorizar um dos traços que mais chamava a atenção. Sais, esfoliantes, creme anti-celulite, óleo para o corpo, perfume francês e óleo de silicone para os cabelos. O importado, não queria ver um só fio em pé. Massagem, limpeza de pele, peeling, banho de lua, manicure, pedicure e depilação. Para ficar com a pele lisinha. Sapato salto agulha, blusa decotada e saia. Justa e curta, tinha que ousar mais. Academia, dança de salão, caminhadas no parque, triatlon, check-up com um clínico geral e sutiã meia-taça. Afinal, passara dos 30. Yoga, relaxamento, budismo, livros de auto-ajuda e terapia. O auto-conhecimento era a sua meta. Camões, Vinicius, Chico, Bocage e Kamasutra. O romantismo e a sexualidade também tinham que fazer parte do enredo. Djavan, Fred Mercury, Bob Marley e Elis. Um pouco de música para a alma. Aulas de Italiano, Francês, Alemão, palestras, workshops e cursos de especialização. Para se intelectualizar ainda mais. Auto-estima, espontaneidade, otimismo, sorriso nos lábios e bom humor. Ia parecer mais leve. Respeito, fidelidade, carinho e paciência. Fundamental na vida. Shoppings, centros culturais, exposições, barzinhos da moda, churrascos, casas noturnas, viagens à praia, ao campo e quaisquer outros pontos de encontro. Lugares estratégicos para não faltar oportunidades. Catolicismo, protestantismo, espiritismo e umbanda. Sua fé não tinha limites. Certos itens já tinha e os sabia explorar como um mestre com total domínio de sua arte e conhecimento. Alguns eram o mero sacrifício latente, mas não valia a pena admitir e desistir. A cada dia, a cada item que cumpria e repetia, era o degrau mais próximo da felicidade. Pensava. Não tinha medo. Era o objetivo mais obsedante que havia tido até então. Podia demorar. Ia acontecer. Do trabalho para casa, da casa para sabe lá onde tamanha incerteza lhe levava. Até o fim do ano sonhava. Prometeu. Iria à luta. Tudo estava listado. Tudo que achava necessário. Daquele ano não passava. Balzaquiana? Sim. E queria a felicidade encontrar.
A lista de uma Balzaquiana

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Quando Assim

Quando eu era espera,
Nada era, nem chovia, nem fazia;
Só senti que a calma, não acalma
Quando só há solidão.
Quando eu era estrela
Era inteira na mentira que eu dizia
Ser o que não era,
Convencia, dentro da minha ilusão

Quando eu fui nada,
Faltou nada, tudo pronto pra escrever
Eu não sabia buscar,
Foi quando apareceu,
O que eu quis inventar,
Pra preencher o meu mundo particular,
No peito que era seu
No seu mundo não há
Mais nada que não eu,
Já sei dizer que o amor pode acordar.
Eu não sabia buscar,
Foi quando apareceu,
O que eu quis inventar,
Pra preencher o meu mundo particular,
No peito que era seu
No seu mundo não há
Mais nada que não eu,
Já sei dizer que o amor pode acordar

Quando Assim - Nuria Mallena

quarta-feira, 16 de maio de 2012

O discurso amoroso, ao soar de todo sentimento (play)



“Encontro pela vida milhões de corpos; desses milhões posso desejar centenas; mas dessas centenas, amo apenas um.
 O outro pelo qual estou apaixonado me designa e especialidade do meu desejo. 
Esta escolha, tão rigorosa que só retém o Único, estabelece, por assim dizer, a diferença entre a transferência analítica e a transferência amorosa; uma é universal, a outra é específica. 
   Foram precisos muitos acasos, muitas coincidências surpreendentes (e talvez muitas procuras), para que eu encontre a Imagem que, entre mil, convém ao meu desejo. Eis o grande enigma do qual nunca terei a solução: 
por que desejo esse? 
Por que o desejo por tanto tempo, languidamente? 
É ele inteiro que desejo (uma silhueta, uma forma, uma aparência)? Ou apenas uma parte desse corpo? E, nesse caso, o que, nesse corpo amado, tem a tendência de fetiche em mim? Que porção, talvez incrivelmente pequena, que acidente? O corte de uma unha, um dente um pouquinho quebrado obliquamente, uma mecha? De todos esses relevos do corpo tenho vontade de dizer que são adoráveis. 
Adorável quer dizer: este é o meu desejo, tanto que único: 
“É isso! Exatamente isso (que amo)!” No entanto, quanto mais experimento a especialidade do meu desejo, menos posso nomeá-la; à precisão do alvo corresponde um estremecimento do nome; o próprio do desejo não pode produzir um impróprio do enunciado: deste fracasso da linguagem, só resta um vestígio: a palavra “adorável” (a boa tradução de “adorável” seria ipse latino: é ele, ele mesmo em pessoa)."


 Roland Barthes
o discurso amoroso é de uma extrema solidão.

Mario Ulloa Interprete musical
Todo Sentimento, Chico Buarque

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Janta

Eu quis te conhecer
Mas, tenho que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno ou o “não dá”...
Pode ser cruel a eternidade
Eu ando em frente por sentir vontade...



Escutem esse som:
http://www.youtube.com/watch?v=vVHSu5pFiX8&feature=related

“Janta” fala de despedida, de adeus, de abdicar de algo e deixar nas mãos da Vida. Fala da dualidade que, volta e meia, corrói todos nós: a vontade versus a temperança. O “querer” versus o “dever”. E quando não há realmente saída, quando a encruzilhada se forma diante dos olhos, só resta entregar a algo fora de nós, talvez maior, talvez mais etéreo, o nosso próprio destino. Mas ao fazermos isso, ao entregarmos nossa Sorte à Vida, a Deus ou ao que quer que seja, ao nos reservarmos do poder de decidir o que virá, temos, aí, uma gota de esperança. Talvez esse “infinito” possa nos trazer respostas que não conhecemos, possa nos levar a lugares novos e bons, possa escolher para nós uma sina melhor, mais feliz. Assim, consentimos. E a música retrata exatamente esse depósito de esperança no destino, diante da impossibilidade de continuar-se da maneira que está. 

Por Carolina Pavanelli