Pegou
papel, caneta e listou. Base, sombra, rímel, delineador, blush e batom.
O
vermelho para valorizar um dos traços que mais chamava a atenção. Sais,
esfoliantes, creme anti-celulite, óleo para o corpo, perfume francês e óleo de
silicone para os cabelos. O importado, não queria ver um só fio em pé.
Massagem, limpeza de pele, peeling, banho de lua, manicure, pedicure e
depilação. Para ficar com a pele lisinha. Sapato salto agulha, blusa decotada e
saia. Justa e curta, tinha que ousar mais. Academia, dança de salão, caminhadas
no parque, triatlon, check-up com um clínico geral e sutiã meia-taça. Afinal,
passara dos 30. Yoga, relaxamento, budismo, livros de auto-ajuda e terapia. O
auto-conhecimento era a sua meta. Camões, Vinicius, Chico, Bocage e Kamasutra.
O romantismo e a sexualidade também tinham que fazer parte do enredo. Djavan,
Fred Mercury, Bob Marley e Elis. Um pouco de música para a alma. Aulas de
Italiano, Francês, Alemão, palestras, workshops e cursos de especialização.
Para se intelectualizar ainda mais. Auto-estima, espontaneidade, otimismo,
sorriso nos lábios e bom humor. Ia parecer mais leve. Respeito, fidelidade,
carinho e paciência. Fundamental na vida. Shoppings, centros culturais,
exposições, barzinhos da moda, churrascos, casas noturnas, viagens à praia, ao
campo e quaisquer outros pontos de encontro. Lugares estratégicos para não
faltar oportunidades. Catolicismo, protestantismo, espiritismo e umbanda. Sua
fé não tinha limites. Certos itens já tinha e os sabia explorar como um mestre
com total domínio de sua arte e conhecimento. Alguns eram o mero sacrifício
latente, mas não valia a pena admitir e desistir. A cada dia, a cada item que
cumpria e repetia, era o degrau mais próximo da felicidade. Pensava. Não tinha
medo. Era o objetivo mais obsedante que havia tido até então. Podia demorar. Ia
acontecer. Do trabalho para casa, da casa para sabe lá onde tamanha incerteza
lhe levava. Até o fim do ano sonhava. Prometeu. Iria à luta. Tudo estava
listado. Tudo que achava necessário. Daquele ano não passava. Balzaquiana? Sim.
E queria a felicidade encontrar.
A
lista de uma Balzaquiana
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