segunda-feira, 11 de junho de 2012

A lista de uma Balzaquiana


Pegou papel, caneta e listou. Base, sombra, rímel, delineador, blush e batom. 
O vermelho para valorizar um dos traços que mais chamava a atenção. Sais, esfoliantes, creme anti-celulite, óleo para o corpo, perfume francês e óleo de silicone para os cabelos. O importado, não queria ver um só fio em pé. Massagem, limpeza de pele, peeling, banho de lua, manicure, pedicure e depilação. Para ficar com a pele lisinha. Sapato salto agulha, blusa decotada e saia. Justa e curta, tinha que ousar mais. Academia, dança de salão, caminhadas no parque, triatlon, check-up com um clínico geral e sutiã meia-taça. Afinal, passara dos 30. Yoga, relaxamento, budismo, livros de auto-ajuda e terapia. O auto-conhecimento era a sua meta. Camões, Vinicius, Chico, Bocage e Kamasutra. O romantismo e a sexualidade também tinham que fazer parte do enredo. Djavan, Fred Mercury, Bob Marley e Elis. Um pouco de música para a alma. Aulas de Italiano, Francês, Alemão, palestras, workshops e cursos de especialização. Para se intelectualizar ainda mais. Auto-estima, espontaneidade, otimismo, sorriso nos lábios e bom humor. Ia parecer mais leve. Respeito, fidelidade, carinho e paciência. Fundamental na vida. Shoppings, centros culturais, exposições, barzinhos da moda, churrascos, casas noturnas, viagens à praia, ao campo e quaisquer outros pontos de encontro. Lugares estratégicos para não faltar oportunidades. Catolicismo, protestantismo, espiritismo e umbanda. Sua fé não tinha limites. Certos itens já tinha e os sabia explorar como um mestre com total domínio de sua arte e conhecimento. Alguns eram o mero sacrifício latente, mas não valia a pena admitir e desistir. A cada dia, a cada item que cumpria e repetia, era o degrau mais próximo da felicidade. Pensava. Não tinha medo. Era o objetivo mais obsedante que havia tido até então. Podia demorar. Ia acontecer. Do trabalho para casa, da casa para sabe lá onde tamanha incerteza lhe levava. Até o fim do ano sonhava. Prometeu. Iria à luta. Tudo estava listado. Tudo que achava necessário. Daquele ano não passava. Balzaquiana? Sim. E queria a felicidade encontrar.
A lista de uma Balzaquiana

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